24 outubro 2006

Linchamentos: hipótese e variantes de explicação


O que é uma hipótese: uma hipótese é uma relação entre dois ou mais fenómenos. Preposição provisória, destina-se a ser testada na investigação. Aqui, é confirmada ou infirmada. A hipótese que se segue é grande, mas não me preocupei por agora em torná-la mais sintética. O fundamental para mim foi tornar claras algumas ideias. A hipótese é acompanhada por duas variantes.

Hipótese para os linchamentos: moradores dos bairros periféricos da cidade de Maputo vivem um conglomerado de problemas entre os quais a criminalidade. Exasperados com a ausência de protecção, confrontados com uma polícia que não lhes inspira confiança, decidem fazer justiça por suas próprias mãos. O linchamento surge como o exutório natural, como a despoluição, como a válvula de escape que permite evacuar temporariamente a tensão e a cólera sociais. O linchado é o bode expiatório, ele tanto pode ser criminoso como inocente. Mas o linchado simbólico é a polícia. Através do linchamento, da violência brutal, sumária, os moradores passam dos sentimentos hostis a uma acção terapêutica. Esta acção terapêutica, catárquica, dá aos moradores o sentimento da justiça finalmente feita e permite adormecer temporariamente outros problemas sociais que os apoquentam, derivados da dificuldade crescente de sobrevivência social. E se interrogados, em únissono, cúmplices, solidários, dirão que nada sabem, nada viram, nada ouviram.
(Esta hipótese salvaguarda a autenticidade popular do fenómeno)

Hipótese tornada mais complexa
Variante A: esse fenómeno genuíamente popular pode, no entanto, estar a ser ampliado pela acção de agitadores com intenção não política, destinada a criar condições para fenómenos como: ajustes de contas de natureza e amplitude a estudar, delimitação de territórios de acção futura das gangs, etc.
(Esta variante não é de natureza complotária e por isso não retira ao movimento a sua matriz popular, endógena)

Variante B: esse fenómeno genuínamente popular pode estar a ser ampliado pela acção de agitadores com uma intenção política, mas disfarçada, com o intuito de retirar dividendos políticos, igualmente de natureza e amplitude a investigar, a médio ou longo prazo.
(Esta segunda variante também não é complotária e por essa razão não subtrai ao fenómeno a sua raiz popular genuína)
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Estou completamente aberto a um debate.

3 comentários:

Carlos Serra disse...

Em relação ao que o Wetela escreveu, três coisas me parecem dever ser ditas: (1) a morfologia dos linchamentos pode variar consideravelmente; (2) nem sempre o linchado é culpado: ele pode ser a parte "substituta" na vitimização, a parte mais fraca (que substitui o inimigo real, o inimigo forte); as análises das multidões em termos irracionalistas, ao género de Le Bon, merecem-me sempre muitas reservas, se esquecermos que à retaguarda do acto existem ou podem existir razões causais bem sólidas. Um abraço!

Carlos Serra disse...

Olhe, este domingo, 11.30, TVM, farei parte de um grupo que vai discutir os linchamentos em interactivo.

Carlos Serra disse...

Entrevista adiada...