26 fevereiro 2008

A crítica triangular da Igreja Católica

Os comunicados condenando a violência social e os manifestantes têm-se sucedido no país. Entre outros, foram os casos do partido Frelimo, da Organização dos Trabalhadores Moçambicanos em relação a Xinavane, da Procuradoria-Geral da República. O alvo tem sido o término do processo, o alvo está a jusante do processo, na foz. O problema está no rio violento.
Mas agora surgiu a Igreja Católica com uma crítica completamente diferente: condena não apenas a violência, mas, também, a intimidação policial e, especialmente, o que chamou "intolerância económica": "Na missiva os bispos destacam o agravamento da carestia de vida no país, situação que dizem não estar a ser compensada nem pelo rendimento familiar nem pelo salário do trabalhador, apelando às autoridades de direito no sentido de “inverter a situação de intolerância económica” de modo a evitar que o espectro da violência se generalize pelo país."
Por outras palavras: a Igreja Católica criticou o que está a montante do rio, criticou as margens que comprimem o rio, produziu uma leitura triangular do fenómeno. Afinal o problema tem três lados e não apenas um.
Uma posição rara esta a da Igreja Católica e, no actual contexto de caça às bruxas e da busca da mão invisível à retaguarda das manifestações, bem corajosa.

4 comentários:

Anónimo disse...

Bem Vinda Igreja Católica, se começar a pensar em nome do Povo. Coisa rara e estranha apesar da sua doutrina pregar o apoio aos desfavorecidos!
A Igreja Católica (e outras) não podem continuar apenas a acenar com a obrigatoriedade do dízimo (antes era só a IURD) ás tão magras bolsas do Povo que procura na espiritualidade as soluções que cá fora já não encontra.Têm uma palavra a dizer sobre a vida dos seus fiéis.
Até a intolerância económica chegou á Igreja porque já pedem o dízimo (com o Vaticano a abarrotar de dinheiro, mas enfim) não têm sequer um jardineiro ou a boa vontade dos fiéis em arranjarem os jardins das suas igrejas.
Que tristeza a Catedral, na praça mais nobre da cidade e rodeada de edifícios emblemáticos e bem cuidados (com um jardim tão simples de arranjar, basta cortar o capim e regar, ficará como relva), a Igreja Stº António da Polana com a sua arquitectura arrojada e nas outras todas que tristeza! Havia de se fazer uma lei obrigando cada um a cuidar dos seus jardins!
Se não nos preocupamos com a nossa casa como nos vamos preocupar com a dos outros!

Carlos Serra disse...

Bem, hoje mesmo irei inspeccionar os jardins...Obrigado pela observação.

MANUEL DE ARAÚJO disse...

O Comentador anonimo diz 'bem vinda a Igreja Catolica, se comecar a pensar em nome do povo. E mais , 'coisa rara e estranha apesar da sua doutrina pregar o apoio aos desfavorecidos'. Salvo ma percepcao minha, acho que o anonimo se equivocou ou entao tem uma memoria extremamente selectiva. Acha que e a primeira vez que a Igreja Catolica pensa em nome do povo? E 'coisa rara e estranha a Igreja Catolica' pensar no povo e nos desfavorecidos? Esqueceu-se das inumeras cartas dirigidas a sociedade nos momentos cruciais da historia deste pais? Esqueceu-se que quando todos tinhamos medo de apelar da paz, da violacao dos direitos humanos foi a Igreja Catolica que deu os primeiros passos? Esqueceu-se que foi o representante da Igreja Catolica, O Dom Jaime Goncalves, que a revelia das autoridades comecou a desbravar o caminho da paz em Mocambique? Que foi a Maringue e iniciou o processo de negociacoes que roxeram a paz a Mocambique!? Sera que apelar e trabalhar para a paz nao e pensar no povo? Nao ha duvidas que a Igreja Catolica como qualquer instituicao social tem os seus problemas, mas dizer que nao tem pensado no povo, que e 'rara e estranha' parece exagero! ou nao caro compatriota? E ja agora apelaria a Igreja para criar uma pagina na net onde divulgaria as suas accoes, incluindo as 'famosas cartas pastorais dos bispos, importantes documentos historicos! Alias a igreja tem o dever de estar na era digital, se quiser sobreviver!
Sem ofensas!
Um abraco patriotico,

Manuel de Araujo

Carlos Serra disse...

Pronto, aqui fica a posição do Manuel.