26 setembro 2008

O que significa a detenção de Manhenje? (3) (continua)

"O poder, as facilidades que rodeiam os governantes podem corromper o homem mais firme. Por isso queremos que vivam modestamente com o povo, não façam da tarefa recebida um privilégio e um meio de acumular bens ou distribuir favores."- Samora Machel
Prossigo a série.
Na história pós-independência do nosso país, é a primeira vez que um ex-ministro, na circunstância Almerino Manhenje, é detido devido a um importante desvio de fundos num ministério. Antes dele, apenas o falecido Sebastião Mabote o fôra, em 1991, mas por uma razão diferente, a de suspeita de tentativa de golpe de Estado.
Num país como o nosso, onde vários trabalhos têem mostrado (1) uma profunda descrença nos órgãos do Estado (designadamente nos da justiça) e (2) uma profunda crença de que a justiça apenas atinge os mais pobres, o desencadeamento por parte da Procuradoria-Geral da República (PGR) de uma operação de grande envergadura que conduziu à detenção de nove indivíduos que nada têm de pobres, oito dos quais - incluindo um ex-ministro - por causa do desvio mais acima citado, ocorrido no Ministério do Interior, provocou, naturalmente, surpresa e admiração.
Creio que, de forma dispersa ou concentrada, de per si ou acopladas, visíveis ou escondidas nas entrelinhas, três hipóteses parecem emergir em diversos quadrantes para explicar o fenómeno tsunami da operação:
1. Pressão dos doadores, cansados de injectar dinheiro para o orçamento geral do Estado sem que a transparência de gestão dos fundos esteja devidamente acautelada.
2. Estratégia múltipla da Frelimo, vizinha das eleições e desejosa de nelas se apresentar de face lavada por inteiro com o fito de fazer o que fez o MPLA em Angola: eliminar por completo a oposição.
3. Luta inter-elites, com a actual elite reinante tendo como alvo uma parte da elite ligada ao ex-presidente Joaquim Chissano (repare-se na frequência com que o nome de Manhenje aparece associado ao de Chissano).
Uma hipótese muito menos considerada publicamente diz respeito ao possível esforço autónomo e genuíno da PGR no sentido de um combate declarado à corrupção.
Veremos a continuidade da série, quando parece estar em jogo uma espécie de resamorização do Estado em período histórico muito distinto daquele em que Samora viveu, Samora que faria 75 anos no próximo dia 29 caso estivesse vivo.

4 comentários:

Anónimo disse...

Boa noite

É com alguma tristeza que noto, que infelizmente ainda há muita gente disposta a condenar toda e qualquer acção por parte do Governo moçambicano e seus órgãos.
Tenho dito, e muitas vezes, que a democracia moçambican é ainda jóvem, mas exemplar para muitos países africanos e não só. O crescimento, muitas vezes é acompanhado de erros sucessivos e só quem nunca errou se pôde dar ao luxo de atirar a primeira pedra...Na minha mosdesta opinião, sinceramente, não consigo chegar às interpretações descritas no texto acima. Choro de emoção, por perceber que o meu país está no bom caminho, sabe bem saber que a justiça não escolhe classes sociais e nem contas bancárias...É com muito orgulho que noto que MOÇAMBIQUE, atenção MOÇAMBIQUE, está no bom caminho...quanto ao resto, tenho pena de ter a imaginação muito pouco fértil, ou mesmo os olhos tapados como de certeza pensarão muitos...mas eu já aprendi, e foi a vida que me ensinou, que por vezes vemos melhor com os olhos fechados...

Anónimo disse...

chorar já faz bem chorar de emoçao faz melhor ainda abre as arterias e nao deixa o colestrol criar calcario.
Sacudu

Anónimo disse...

Obrigado Carlos pela análise muito interessante. Seré que também existe a possibilidade duma mistura entre duas ou mais explicações?

Anónimo disse...

Nao penso que seja condenar somente de ver diferentes causas possiveis, isoladas ou combinadas. Hipotese doadores nao e fundamental, a auditoria exclusiva ao MINT, e nao a defesa foi mandada fazer antes dos doadores pressionarem. O que faz a justica acordar com Manhenje, e nao comecou hoje foi logo no inicio do mandato, o que sucede se forem auditadas as contas do tempo no qual o ministro dos transportes antes de Tomas Salomao... Justica cega nao deve permitir que pessoas ligadas apenas a uma ala sejam julgadas quando as da outra ficam de fora porque ela deixa de ser cega para ser terrorista e servir interesses fora da justica. Eu aprendi qua as vezes com olhos abertos nao conseguimos ver. O Zambeze diz que a PGR vai finalmente procurar saber a proveniencia da fortuna de um dos mencionados naquele jornal, espero que facam o mesmo para todas as fortunas escandalosas que diambulam no pais, seja por via de patos ou capulanas, podera dizer-se que a justica e de facto cega.