27 dezembro 2008

Espantar-me na rua (11)

Mais um pouco da habitual série.
1. Maputo vive aquele limbo clássico, vírgula entre a festa e o remanso digestivo, na expectativa de um fôlego mais vigoroso no fim-de-ano. Em Janeiro teremos, para muitos, um apertar-cintos duro. Feito o potlatch, importará depois saber como remendar o dia-a-dia.
2. Aqui estão, em seu doce caminhar e expôr, elas e eles, fogosos uns, habituados outros. Os mais jovens estão na crista do espanto e da conquista, elas afoitas em seu esperar, eles avançadores em seus jeitos de apresamento: cada passo, cada gesto, cada silhueta de ser no entre-dois, é uma aposta na descoberta, no novo, na expectativa do ainda não sentido. Pelo contrário, os mais velhos, esses exibem o hábito, nada resta a não ser a repetição, o viço é a vestimenta de cada coisa, o cansaço a proa da vida. Roupas pesadas e quentes, ícones erógenos cobertos ou descaídos, barrigas salientes, calvícies sonoras, cabelos pintados, gestos iguais, nada surpreende, tudo é conhecido. O combóio não mais se espanta com os carris.

1 comentário:

Lisa disse...

o espantar-me com o "Eu" nestes dias festivos :
Pantufas, pijama, lareira , musica clasica e Eugénio de Andrade..:)

O mais longe possivel da confusão..
Lisa