28 fevereiro 2009

O que os Americanos escreveram sobre direitos humanos em Moçambique

Saiba o que os Americanos escreveram sobre nós em termos de direitos humanos para 2008, em relatório divulgado a 25 deste mês. Confira aqui.
Adenda a 01/03/09, 18:18: o jornalista da Agência de Informação de Moçambique, Paul Fauvet, escreveu o seguinte comentário, aqui.
Adenda a 02/03/09: leia o que Ericino de Salema escreveu, aqui.

E se Deviz se obama? (2)


Vamos lá, mais um pouco desta série.
O que representa e continua a representar Barack Obama dentro e fora dos Estados Unidos? Uma apologia de crença, de sonho, uma esperança de melhoria de vida, uma aposta diferente dos discursos clássicos de republicanos e democratas, uma espécie de milenarismo moderado para milhões de pessoas assustadas com a perda dos empregos, com o consumismo, com o endividamento, com o individualismo, com as guerras.
Simples, frugal, exprime o exercício da honestidade, defende a austeridade.
É capaz de reconhecer erros, como que coloca o humano na crista do político hábil.
Não é o Obama negro para uns, misto para outros - verruga de tantos discursos racializantes -, que está aqui em causa.
É o Obama de mudança, da novidade, da recauchutagem dos sonhos, do popular, da retemperação da vida e das relações sociais, vírgula entre a recusa do socialismo autoritário e a evicção do capitalismo predador, protótipo de um novo tipo de dirigente político.
Até que ponto Deviz Simango (na imagem, em campanha política o ano passado) pode, a partir das terras do Chiveve, obamar a vida em Moçambique?
Adenda às 21:25: acabo de saber que se deve realizar nos dias 6 e 7 do próximo mês, cidade da Beira, a conferência constitutiva do Movimento Democrático de Moçambique.

Crise financeira mundial: surgirão guerras civis (Niall Ferguson)

Os efeitos da crise financeira mundial serão prolongados e antes do seu término haverá sangue, guerras civis irão ocorrer. Governantes moderados tornar-se-ão extremos - prevê Niall Ferguson, autor do livro The Ascent of Money. Leia aqui uma entrevista em cinco páginas, nas quais Ferguson tem o Canadá como foco e refere a sua tese da Chimérica. Obrigado ao Ricardo, meu correspondente em Paris, pelo envio da referência. Já agora, recorde esta minha postagem aqui.
Adenda: sobre a crise, siga, entre outros, este directório aqui.

É a nossa vez de comer

Esse o título de um livro escrito por Michela Wrong sobre o exilado queniano e famoso militante da luta anti-corrupção John Githongo (na imagem). O livro é considerado tão explosivo que algumas livrarias em Nairobi estão a recusar vendê-lo. Comer é um eufemismo para traduzir popularmente o enriquecimento ilícito através do poder político. Confira aqui. Já agora, recorde este trabalho sobre Githongo, datado de 2006 (poderá ainda consultar uma entrevista e um relatório dele sobre a corrupção no Quénia).

Ionge: populares acusam autoridades de prender a chuva no céu (8)

Mais um pouco desta série.
No número anterior e através de um texto muito antigo, falei-vos do comunitarismo aldeão e da crença de que enriquecer significava fazê-lo à custa da cumunidade.
Pareceu-me boa ideia recuar de novo na história e dar-vos a conhecer o papel atribuído aos antigos fumos ou encosses.
Escrevendo para o rei português em 1648, o então capitão de Sena, Francisco Figueira de Almeida, afirmou que no antigo Império de Muenemutapua (ou Mwenemutapwa ou Munhumutapwa, como queiram, escolhei a grafia) - o qual cobria também o nosso país -, as povoações (muzindas) tinham chefes chamados fumos ou encosses, todos dependentes de um mambo.Os fumos eram eleitos entre os que mais posses tinham localmente. O seu reinado durava enquanto tivessem com que gastar com a comunidade. Eram obrigados a tudo gastar: comida, pombe, jóias, tecidos, etc. Quando nada mais lhes restasse, eram destituídos e passavam a pertencer ao grupo dos grandes por mérito, com direito ao uso de um chapéu de palha e de um bordão*.
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* Almeida, Francisco Figueira de, Carta q Franc.co Figr.ª de Almeida, Capitam de Sena, esvreeuo ao Governador Dom Nunes de Alues, dando lhe conta do q hia obrando, acerca da guerra, in Gomes, Antonio, Viagem q fez o Padre Ant.º Gomes, da Comp.ª de Jesus, ao Imperio de de (sic) Manomotapa: e assistencia q fez nas ditas terras de Alg´us annos (séc. XVII), 3, 1959, separata, p. 205.

Privatização taliónica da justiça

Reporta o "Notícias" de hoje que dois supostos assaltantes foram espancados pelos moradores do bairro Guava, distrito de Marracuene*, província de Maputo. Não foram linchados, foram pré-linchados. Notícias deste teor são frequentes nas ocorrências do jornal. A polícia tem feito campanhas de sensibilização procurando mostrar que essa não é a lei, que a lei tem outros canais, os do Estado. Certamente outras instituições estatais têm também trabalhado nesse sentido. Mas debalde. As pessoas continuam a linchar ou a pré-linchar ladrões ou suspeitos, num pleno exercício de privatização taliónica da justiça. É como se dissessem: contra o vosso poder, exibimos o nosso. Aqui está um tema que merecia ser analisado para além da crítica e da morfologia do fenómeno.
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* O distrito de Marracuene parece querer tornar-se se não numa zona linchatória, pelo menos numa zona pré-linchatória. Recorde aqui.

Mugabe: aniversário de 250 mil dólares

Cura-tudismo nos bairros suburbanos de Maputo



O António Muchanga escreveu para o "Notícias" a propósito do cura-tudismo (tema frequente neste diário): "Em vários bairros suburbanos da cidade de Maputo passou a ser comum encontrar telas de publicidades improvisadas fixadas em lugares estratégicos, com escritos que mostram os dotes e especialidades dos doutores (!). A título de ilustração, reparemos no seguinte exemplo típico: DR CHINELO, Médico Tradicional Internacional, com 47 anos de experiência, tem maior êxito não só em África, mas também na Europa e EUA. Cura-tudo, e agora oferece medicamentos anti-retrovirais. Garante valia na cura de doenças como: SIDA, tuberculose, hemorragia, corrimentos, anemia, gonorreia, paralisia e outras. Soluciona vários problemas sociais relacionados com azar, emprego, divórcios; progressos na carreira profissional e na vida social."

27 fevereiro 2009

A "hora do fecho" no "Savana"

Na última página do semanário "Savana" existe sempre uma coluna de saudável ironia que se chama "A hora do fecho". Naturalmente que é necessário conhecer um pouco a alma da vida local para se saber que situações e pessoas são descritas. Deliciem-se com "A hora do fecho" desta semana, da qual vos dou, desde já, um aperitivo:

Zimbabwe e as duas casas reinantes


Há crescentes indicadores de luta entre as casas reinantes da ZANU-PF/Mugabe e do MDC-T/Tsvangirai no chamado governo inclusivo do Zimbabwe. Confira aqui. Entretanto, parece que Tsvangirai vai estar presente na comemoração do aniversário de Mugabe amanhã. Leia aqui.
Adenda às 20:32: sugiro-vos que leiam este trabalho aqui.

Tráfico de partes de corpo em Moçambique e na África do Sul (4)


Do relatório: "Se alguém é encontrado em posse de uma parte de corpo na África do Sul ou em Moçambique, e se não houver maneira de relacionar a parte de corpo a uma vítima, é difícil que, sob a legislação actual, a polícia consiga condenar os indivíduos na posse da parte de corpo. Há muitos registros nesta pesquisa em que indivíduos foram apanhados em posse de partes de corpo, no entanto esta pesquisa não foi capaz de encontrar algum exemplo ou registro de condenações relacionadas com posse de partes de corpo quando o corpo mutilado não foi encontrado."
"Devido à falta de métodos sofisticados de investigação na região, como testes de ADN, é difícil para a Polícia descobrir qual a origem de uma parte de corpo. Como mencionado, a incapacidade de descobrir a vítima a quem pertence a parte de corpo, torna a condenação difícil. Aparentemente, segundo esta pesquisa, quando as partes de corpo são traficadas, muitas vezes, as mesmas são levadas para longe do corpo mutilado. Nesta pesquisa descobriu-se que as pessoas apanhadas na posse de partes de corpo, não são, normalmente, da zona onde foram encontradas, particularmente nas fronteiras, tornando-se ainda mais difícil descobrir a que corpo pertence uma parte de corpo."
(fim)

Tráfico de partes de corpo em Moçambique e na África do Sul (3)


Do relatório: "Tanto na África do Sul como em Moçambique, a pobreza e as fracas oportunidades de vida são uma realidade para a vasta maioria da população. As entrevistas feitas por este projecto de pesquisa confirmaram que a pobreza é o forte condutor que leva o povo a consultar os feiticeiros. As pessoas tentam desesperadamente sair da pobreza e das frustrações e pobres condições de vida a ela associadas. Estão portanto susceptíveis às ofertas dos feiticeiros para melhorarem a saúde e/ou as condições financeiras. Tal como um informante disse: (as pessoas vão aos feiticeiros, Ed.) "[…] para ficarem ricas e serem tratadas".
(continua)

Tráfico de partes de corpo em Moçambique e na África do Sul (2)


Do relatório citado no número 1 desta série: "Há dois tipos principais de tráfico de partes do corpo humano: 1) Tráfico de órgãos para transplantes 2) Tráfico de órgãos e partes do corpo para práticas tradicionais prejudiciais e, mais especificamente, para feitiçaria. Tornou-se claro com esta pesquisa que as partes de corpo não são traficadas com o objectivo de serem usadas para transplantes entre Moçambique e a África do Sul. Há numerosas entrevistas nesta pesquisa, nas quais os informantes testemunharam partes de corpo a serem transportadas em sacos, embrulhadas em folhas, escondidas dentro de caixas com carne, na bagageira do carro, dentro de uma panela numa paragem táxi, entre outras. Nenhum destes métodos de transporte é conducente para transplantes. Um informante que trabalha com assuntos de tráfico na fronteira entre Moçambique e a África do Sul resumiu: "Não há maneira de saber o que eles iam fazer com esses órgãos, ou o que é que aconteceu aos corpos das vítimas. Uma coisa que temos a certeza é que não são para transplantes".
"As etnografias antropológicas sociais têm documentado histórias de homicídios muti na África Austral desde 1800 e as pesquisas mostraram que os incidentes de homicídios muti aumentam em tempos de stress económico e político. A prática é comummente associada a feitiçaria. Os homicídios muti são largamente conhecidos por ocorrerem na África Austral embora nenhum país tenha feito relatórios exactos sobre esta prática."
(continua)

UNESCO: não há línguas em vias de extinção em Moçambique

De acordo com a UNESCO, Moçambique não tem línguas em vias de extinção. Mas há países com esse problema, Angola por exemplo, com três línguas extintas e uma em vias de extinção. Confira aqui. Obrigado ao Ricardo, meu correspondente em Paris, pelo envio da referência do portal. Entretanto: quantas línguas tem o nosso país? Recorde aqui.

Tráfico de partes de corpo em Moçambique e na África do Sul (1)


Consegui finalmente acesso ao relatório da Liga Moçambicana dos Direitos Humanos com o título em epígrafe, elaborado por Simon Fellows. Logo que me for possível, aqui regressarei para vos dar a conhecer versões em português e em inglês.
(continua)

Cabo Delgado e Nampula: a cólera social


Comentário: províncias de Cabo Delgado e Nampula afectadas pelo que o jornal chama, referindo-se a Nampula, "desinformação sobre a cólera". Sem dúvida, problema grave, problema desinformado, problema que não pára e que parece ampliar-se. A crença não habita uma ou duas pessoas, mas multidões. Oiçam, tenho um livro sobre essa desinformação, com o título Cólera e catarse: adquiram-no, leiam-no. Ontem como hoje, o problema é para mim o seguinte: por que razão uma crença objectivamente falsa é, porém, sentida como subjectivamente verdadeira? Continuem a seguir a minha série com o título Ionge: populares acusam autoridades de prender a chuva no céu.

26 fevereiro 2009

Mugabe, o luxuoso aniversariante

Vários jornais têem referido o sumptuoso aniversário de Robert Mugabe (85 anos), presidente do Zimbabwe, país empobrecido de forma desalmada. Confira aqui. O nosso "Savana" também se referiu ao evento esta semana, escrevendo, em trabalho com o título "Um luxo quando metade da população sobrevive graças à ajuda alimentar", que apenas foi possível obter 110 mil dólares para o aniversário, quando o desejável era "recolher 250 mil dólares". O jornal reporta duas mil garrafas de champagne, 500 de whisky, oito mil lagostas, quatro mil porções de caviar, três mil patos, 16 mil ovos, três mil bolos de chocolate e oito mil caixas de bombons (p. 28).
Comentário: a vida é como assim, num é?

Ionge: populares acusam autoridades de prender a chuva no céu (7)

Prossigo um pouco mais esta série.
Fazendo-o, tenho para mim ser fundamental recordar um secular mecanismo simbolicamente neutralizador da riqueza.
Por exemplo, em documento referente ao século XVI (poderia arrolar muitos outros documentos do mesmo género e de períodos históricos distintos), Francisco Monclaro escreveu o seguinte a propósito das comunidades camponesas (muchas) do centro do país, mas, também, do Zimbabwe:
"E se acontece que algum deles é mais diligente e granjeador e por isso colhe melhor novidade e cópia de mantimento, logo lhe armam couzas falsas por onde lho tomam e comem, dizendo: porque razão haverá aquele mais milho que outro, não atribuindo isto a maior indústria e deligência, e muitas vezes por esta culpa o matam para lhe comerem tudo (...)"*
Esta crença era invariavelmente expressa através de uma acusação de feitiçaria.
Por outras palavras: era considerado ilícito todo o processo de acumulação realizado à margem das relações existentes, especialmente parentais. Enriquecer era ferir a comunidade, o igualitarismo aldeão.
_______________
* Monclaro, Francisco, Relação da Viagem que fizeram os Padres da Companhia de Jesus com Francisco Barreto na conquista do Monomotapa no ano de 1569, in Documenta Índica, vol. VIII, p. 683 et segs.
Adenda: um leitor disse-me por email que Ionge aparece como Longe na série que está a ser publicada no semanário "Savana". Procurarei que o erro seja emendado nos números seguintes. Obrigado pela chamada de atenção.

Rapto de 20 pessoas?

De acordo com o "Savana" desta semana, pela pena de André Catueia, 20 pessoas, entre as quais nove com idades entre os 13 e 16 anos, estão retidas no Infantário Provincial de Manica, cidade de Chimoio, desde domingo, aguardando pela evacuação, após terem escapado a um "suposto rapto". Essas pessoas foram recrutadas no distrito de Machaze, sul da província de Manica, com promessas de emprego e estavam a ser canalizadas para a África do Sul num camião contentor, tendo sido interceptadas pela polícia em Inhambane. A administradora de Machaze, Alice Tamele, afirmou ao jornal que se trata de um "problema cultural enraizado e que necessita de um estudo aprofundado para o seu combate", mas não indicou que problema é esse (p. 4).
Nota: o último caso reportado neste diário data de Agosto do ano passado, recorde aqui. Mas leia também aqui. Eis um fenómeno que, efectivamente, era merecedor de um estudo em profundidade.

Zimbabwe: problemas no governo

O primeiro-ministro do Zimbabwe, Morgan Tsvangirai, revelou inquietação com a nomeação de dirigentes governamentais fora da sua alçada. Um jornal escreveu mesmo que o MDC considera a possibilidade de se afastar do governo. Confira aqui.

25 fevereiro 2009

Agosto: de novo em São Paulo para seminário do IBCCRIM

Vou de novo a São Paulo em Agosto como conferencista convidado do 15. °Seminário Internacional do Instituto Brasileiro de Ciências Criminais, para desenvolver o tema Linchamentos e Xenofobia: cartarse e dor. Confira aqui a lista dos primeiros conferencistas convidados.

Moçambique no "International Property Rights Index" - relatório 2009


Consulte o relatório da organização acima indicada, no qual o nosso país aparece em 82.° lugar entre 115 países a nível mundial e em 11.° entre 21 países a nível regional. Aqui. Obrigado ao Ricardo, meu correspondente em Paris, pelo envio da referência.

Poemas sociológicos ("Lágrima de preta" de António Gedeão)

Não é a primeira vez - nem será a última - que aqui coloco o que chamo poemas sociológicos (recorde aqui e aqui). Eis mais um, então, de uma beleza ímpar, um verdadeiro ariete contra o racismo, da autoria de Rómulo de Carvalho, professor, pedagogo, investigador e poeta com o pseudónimo de António Gedeão:
*
Encontrei uma preta
que estava a chorar,
pedi-lhe uma lágrima
para a analisar.
*
Recolhi a lágrima
com todo o cuidado
num tubo de ensaio
bem esterilizado.
*
Olhei-a de um lado,
do outro e de frente:
tinha um ar de gota
muito transparente.
*
Mandei vir os ácidos,
as bases e os sais,
as drogas usadas
em casos que tais.
*
Ensaiei a frio,
experimentei ao lume,
de todas as vezes
deu-me o que é costume:
*
Nem sinais de negro,
nem vestígios de ódio.
Água (quase tudo)
e cloreto de sódio.
Adenda: oiça o poema cantado por Adriano Correia de Oliveira, aqui. Obrigado ao umBhalane pelo envio da referência.

Potenciais de xenofobia em Moçambique

Esse o título-tema da pesquisa que, este ano, vou dirigir ao nível da Unidade de Diagnótico Social (UDS) do Centro de Estudos Africanos, pesquisa que culminará num livro e que contará com a participação de alguns parceiros institucionais. O tema será extensivo a dois primos - deixem-me dizer as coisas assim prazenteiramente, por agora, sem qualquer rigor - do fenómeno: racismo e etnicismo.
Temos as portas abertas a todos os interessados em colaborar connosco. A primeira reunião da UDS realiza-se próxima quarta-feira, dia, 12 horas, no Centro de Estudos Africanos, campus da Universidade Eduardo Mondlane. Mas atenção: não pagamos salários.
Enquanto isso, permitam-me informar-vos que sairá este ano o segundo volume da série Linchamentos em Moçambique, dedicado aos linchamentos por acusação de feitiçaria. O primeiro foi recentemente posto à venda.
Imagem reproduzida daqui.

Dá que pensar

Da antropóloga moçambicana Carmeliza recebi um texto merecedor de reflexão, a saber: "Nos últimos dias tenho lido e ouvido sobre levantamentos populares onde membros da comunidade queimam casas ou agridem membros da comunidade por diversas razões. Em Nicoadala foi por causa da falta de chuvas. Em Cabo Delgado está ligado à cólera. Aqui foram atacados trabalhadores da saúde e morto um médico tradicional. Pergunto-me se outras frustrações se estarão a representar nesta forma de reagir violenta. Aqui pouco ou nada tem a ver a incapacidade do Estado deproteger o cidadão. No caso das chuvas recorre-se à acusação de feitiçaria para explicar as mudanças climáticas. A obra de Michael Taussing é bastante ilustrativa dos mecanismos de acusação de feitiçaria na explicação da realidade em mutação. No caso da cólera, parece-me uma desconfiança das intenções do Estado. A reacção é similar. O resultado é devastador. Dá que pensar."
Comentário: Obrigado, Carmeliza. Agora que estou em Maputo, prosseguirei normalmente a série com o título Ionge: populares acusam autoridades de prender a chuva no céu.

24 fevereiro 2009

Dois linchados na Beira e Dondo (14 vítimas de linchamento este ano a nível nacional)


Segundo o "Notícias" de hoje, mais dois indivíduos, havidos por cadastrados, foram linchados no fim-de-semana nas cidades da Beira e do Dondo, província de Sofala. Confira aqui. Com estas novas vítimas, eleva-se para 14 o número de linchados este ano, nos casos publicamente reportados. Recorde esta minha postagem aqui. Já agora, saiba que nos dias 11 e 12 de Março se realiza na cidade de Maputo a Conferência nacional sobre criminalidade e sociedade.

Boa governação, a música do presente!

De Odibar Lampeão, técnico superior da Administração Pública, recebi, com pedido de publicação, o texto que, com o título em epígrafe, pode ser importado e lido aqui.

Maputo num blogue brasileiro


O jornalista brasileiro Guilherme Freitas tem um trabalho no Blog da Comunicação sobre Maputo. Confiram aqui.

Em Maputo

Já cheguei a Maputo. Abraço a todas e a todos.
Adenda: há muitos emails e comentários. Deixem-me tentar responder normalmente a partir de amanhã, está bem? Obrigado.

22 fevereiro 2009

Em Lisboa

Chegado de São Paulo hoje muito cedo, aqui estou em Lisboa com agradáveis 12 graus. Onde estou existe uma forte presença africana. Sinto gente da Guiné. Tenho a percepção de que há aqui muita gente da África ocidental. Mas, enfim, não tenho tempo para pesquisar isso, regresso amanhã a Maputo.

21 fevereiro 2009

Pedido de compreensão aos leitores

Olá! Estou há várias horas sem conseguir acesso ao meu email da Universidade Eduardo Mondlane. Isso significa que não posso editar os comentários que os leitores eventualmente tenham feito. O meu pedido de desculpas pela acção perversa do xicuembo que me acompanha quando viajo...Dentro de algumas horas deixo esta São Paulo que tanto amo (mas à qual regressarei em Agosto) a caminho de Lisboa. Certamente só aqui poderei libertar os comentários. Abraço.
Adenda: xicuembo evacuado, email reposto.

A "hora do fecho" no "Savana"

Na última página do semanário "Savana" existe sempre uma coluna de saudável ironia que se chama "A hora do fecho". Naturalmente que é necessário conhecer um pouco a alma da vida local para se saber que situações e pessoas são descritas. Deliciem-se com "A hora do fecho" desta semana, da qual vos dou, desde já, um aperitivo:

20 fevereiro 2009

Zimbabwe: camaradas e senhores

O chamado governo inclusivo já está formado no Zimbabwe, é uma chuva de 61 membros do gabinete ministerial, envolvendo a ZANU-PF de Robert Mugabe, o MDC-T de Morgan Tsvangirai e o pequeno MDC cessionista de Arthur Mutambara. Apesar das inclusões, os tratamentos dados pelo oficioso The Herald continuam rígidos e exclusivos: quem é da ZANU é camarada, quem não é, é senhor ou senhora. Confira exemplos aqui e aqui.

Zimbabwe: festival de 61 ministros


O Zimbabwe é um país gravemente empobrecido, mas o governo tem agora 61 ministros, o maior gabinete ministerial desde a independência nacional. Obrigado ao Ricardo, meu correspondente em Paris, pelo envio da referência.
Comentário sensaborão: a vida é assim, não é? Sempre austera...Mas a notícia tem o suficiente para reflexão e debate.
Adenda a 21/02/09: o nosso governo tem 28. Confira aqui.

Conferência nacional sobre criminalidade e sociedade

Eis o programa da Conferência sobre Criminalidade e Sociedade: o respeito pela vida humana, por mim aqui anunciada há dias, a realizar-se nos dias 11 e 12 de Março na cidade de Maputo:
PROGRAMA
1° DIA / Manhã
Sessão de Abertura- Plenária
9:10h – Hino Nacional
Objectivos e Metodologia da Conferência Nacional –Director-Geral do ISAP
Comunicação de Abertura
Criminalidade e Sociedade Moçambicana: Uma reflexão necessária “- SEXA PRESIDENTE DA REPÚBLICA DE MOÇAMBIQUE”
Actividade cultural
Linhas Gerais da Reflexão
Prevenção e combate contra a criminalidade, desafios por uma justiça de qualidade e eficaz – SEXA Ministra da justiça
Informe sobre a organização da conferência – Director-Geral do ISAP
10:00-10:15 -
10:15-10:45 – Intervalo (Lanche)
FOTO DE FAMÍLIA
10:45-13:00 – “Justiça Restaurativa em Moçambique. “
Orador: Prof. Doutor Oscar Monteiro
Moderador:Dr. João Carlos Trindade
12:00-13:00 – Debate:
13:00 – 14:00 – Intervalo (Almoço)
14:00 -16:00 - Sessões Paralelas
Sessão 1- “Violência Colectiva (linchamento), ordem social e Estado de Direito “
Orador: Prof.Doutor Carlos Serra
Moderador:Juiz Conselheiro, Dr. João Carrilho
Debate: Que propostas para o futuro?
Sessão 2 – “O tráfico de pessoas: um atentado contra a dignidade da pessoa humana”
Oradora:Drª Graça Machel
Moderador: Dr. Teodato Hunguana
Debate: Que propostas para o futuro?
2° DIA /Manhã
Sessão Plenária
8:30 – 10:30- “Justiça alternativa em Moçambique.”
Oradores: Dr. Abdul Carimo e Juiz Conselheiro Luís Mondlane
Moderador:Dr. Rui Baltazar dos Santos Alves (Presidente do Conselho Constitucional)
10:30 – 10:45 –Intervalo (Lanche)
10:45 – 12:00 - Debate
12:00 – 13:00 – Intervalo (Almoço)
13:00 -15:00 - Sessões Paralelas
Sessão 1
“A moralização da sociedade: O papel da sociedade civil e das igrejas”
Orador: Dom Dinis Sengulane
Moderador: Prof. Dr. Carlos Machili
Sessão 2
“Dilemas éticos na cobertura do Crime”.
Orador:Dr.Tomás Vieira Mário
Moderador:Dr. Delfim de Deus Junior (Ordem dos Advogados)
Sessão 3
O policiamento comunitário: desafios
Orador: MINT
Moderador: Dr. Ossumane Aly Dauto
15:00-15:30 – Intervalo (Café)
Sessão de Encerramento
15:30-16:30 – As principais aprendizagens/propostas (os moderadores de cada sessão)
Moderador:Ministra da Justiça
16:30 -17:30 – Debate
17:30 – 18:00 – Discurso de Encerramento – SEXA Primeira-Ministra

Parar o vento com as mãos já não é possível

O eng.° Noé Nhantumbo escreve na Beira, com o título em epígrafe, sobre a formação de um novo movimento político liderado por Deviz Simango, alvo de um crescente apoio popular: "O movimento que se prenuncia e que poderá vir a designar-se por MDM, parece arrancar com uma outra base. Logo à partida pode dizer-se que começou com o pé direito. A vitória dos que decidiram abraçar a desobediência democrática nas eleições autárquicas na Beira é um sinal importante do que pode um movimento fazer em termos políticos. Não se pode negar que a vitória foi resultado de trabalho e de uma capacidade de controle e fiscalização que até faz inveja a partidos enraizados e com anos de existência. Vaticínios não vão ser suficientes para parar a vontade popular numa situação em que de ano para ano vai piorando a vida das pessoas. Os moçambicanos mesmo sem recurso a grandes esforços têm tido a capacidade de aprender que os políticos que os procuram conquistar, são muitas vezes movidos por sentimentos que não são de confiar. Tudo o que as sucessivas legislaturas tem produzido deixa muito pouco a desejar. Os problemas remetidos ao Parlamento acabam quase sempre sem as soluções desejadas mesmo quando a razão está do lado de quem se queixa."

Nacionalismo moçambicano vs política externa da Frelimo

Reflexos da crise capitalista em Moçambique

Aqui, em São Paulo, onde me encontro, as manchetes dos jornais e da televisão são invariavelmente dedicadas à crise capitalista mundial e aos despedimentos de trabalhadores. Vejamos o nosso caso, Moçambique, através de um trabalho publicado no "Savana" desta semana.

Fome: um texto de Machado da Graça

Da coluna semanal de Machado da Graça no "Savana": "Entretanto, nas aldeias as pessoas morrem à fome. Porque não há novas barragens para capturar a água que temos em demasia e se perde no mar. Porque o Estado não tem dinheiro para criar as infra-estruturas que poderiam fazer a diferença entre o que somos hoje e o que já poderiamos ser neste momento. Porque não podemos fugir à realidade: o dinheiro gasto nas obscenas mansões da elite, nos carros de luxo, em toda a ostentação de uma riqueza que a maioria não saberia justificar, é dinheiro que faz falta para melhorar a vida da maioria. E a acumulação continua de forma totalmente descontrolada. Os mais fieis seguidores da Frelimo têm garantidos, para além de chorudos ordenados nos seus cargos no seu partido e nos órgãos do Estado (Assembleia da República, por exemplo) novas mordomias nos Conselhos de Administração de grandes empresas públicas, de cuja gestão nada percebem mas onde estão colocados apenas para receber os opíparos salários. E, entretanto, na base o povo passa fome. Porque o dinheiro não é elástico. Ou vai para um lado, ou vai para o outro. O mesmo dinheiro não pode ir para dois lados diferentes ao mesmo tempo. Portanto, a riqueza ultrajante de uma elite, que se delapida em carros de luxo destruídos todos os fins de semana, em Maputo, por jovens bêbados, é o que falta para criar a escola, pagar o professor e o enfermeiro, construir a represa ou montar a energia eléctrica. Não são coisas separadas, independentes uma da outra. São as duas faces de mesma moeda."

Reforma curricular na UEM: docentes e "Domingo"

Dhlakama vai viver em Nampula?

Moçambique não carece de massificação do ensino superior (defende João Mosca)

No semanário "Savana" desta semana: "Numa altura em que se assiste a uma massificação desenfreada do ensino superior no país – em parte devido à subordinação do ensino a objectivos políticos, como o combate à pobreza absoluta e a formação em maior quantidade possível -, João Mosca duvida que Moçambique necessite da massificação do ensino superior, mostrando que sociedades muito avançadas só agora estão ensaiando esse objectivo. O académico, formado em economia agrária, falava sexta-feira última em Oração de Sapiência na Universidade Politécnica em Maputo."

Sabe que no "congado" entra...Moçambique?







Pois é, parece coisa bizarra esse título, não é? Mas uma gentil brasileira do município de Alvinópolis, Estado de Minas Gerais, a Lisa de Carvalho, também leitora deste diário - rainha desde maio de 2007 a Maio de 2008, na foto -, me falou muito hoje do congado, dança de plena mestiçagem de cultos católicos e africanos envolvendo a coroação de um rei, na qual surge o nome do nosso país. Vejam só o que está escrito na Wikipedia:
"Na celebração de festas aos santos, onde a aclamação é animada através de danças, com muito batuque de zabumba, há uma hierarquia, onde se destaca o rei, a rainha, os generais, capitães, etc. São divididos em turmas de números variáveis, chamados ternos. Os tipos de ternos variam de acordo com sua função ritual na festa e no cortejo: Moçambiques, Catupés, Marujos, Congos, Vilões e outros."
Adenda 1: das primeiras quatro fotos foram tiradas em Alvinopólis e foram-me enviadas pela Lisa de Carvalho. A quinta pertence à Wikipedia.
Adenda 2: e se eu conseguisse um financiamento para ir a Alvinopólis estudar o fenómeno? Hum....coisa a pensar seriamente.