28 fevereiro 2009

Ionge: populares acusam autoridades de prender a chuva no céu (8)

Mais um pouco desta série.
No número anterior e através de um texto muito antigo, falei-vos do comunitarismo aldeão e da crença de que enriquecer significava fazê-lo à custa da cumunidade.
Pareceu-me boa ideia recuar de novo na história e dar-vos a conhecer o papel atribuído aos antigos fumos ou encosses.
Escrevendo para o rei português em 1648, o então capitão de Sena, Francisco Figueira de Almeida, afirmou que no antigo Império de Muenemutapua (ou Mwenemutapwa ou Munhumutapwa, como queiram, escolhei a grafia) - o qual cobria também o nosso país -, as povoações (muzindas) tinham chefes chamados fumos ou encosses, todos dependentes de um mambo.Os fumos eram eleitos entre os que mais posses tinham localmente. O seu reinado durava enquanto tivessem com que gastar com a comunidade. Eram obrigados a tudo gastar: comida, pombe, jóias, tecidos, etc. Quando nada mais lhes restasse, eram destituídos e passavam a pertencer ao grupo dos grandes por mérito, com direito ao uso de um chapéu de palha e de um bordão*.
_______________________
* Almeida, Francisco Figueira de, Carta q Franc.co Figr.ª de Almeida, Capitam de Sena, esvreeuo ao Governador Dom Nunes de Alues, dando lhe conta do q hia obrando, acerca da guerra, in Gomes, Antonio, Viagem q fez o Padre Ant.º Gomes, da Comp.ª de Jesus, ao Imperio de de (sic) Manomotapa: e assistencia q fez nas ditas terras de Alg´us annos (séc. XVII), 3, 1959, separata, p. 205.

Sem comentários: