26 maio 2009

Moçambicanos não sabem comer? (5)

Termino esta série.
Vejamos agora o segundo problema mencionado no número anterior.
A televisão, especialmente a televisão, é um canal que exige da parte de quem nele é entrevistado um grande controlo sobre as emoções. A empatia, a sinergia criada, ambiental, são de molde a dar rédea solta ao facilitismo, à expressão brejeira, à generalização brincalhona, à busca jocosa do exotismo, etc.
Ora, o programa aqui em causa apresenta uma maneira - ligeira, generalizante, substancialista - de tratar dos hábitos culinários do nosso povo que pode chocar várias pessoas, como chocou. Dizer que os Moçambicanos não temperam a comida é um produto da ligeireza; dizer que apenas os homens comem carne, é outra. Isso pode cair bem no Brasil (suscitando piedades do género "coitados dos Africanos, precisamos mesmo ajudá-los"), mas aqui cai mal.
Quero, porém, acreditar que essa não foi nem é a intenção da nutricionista Camila.
(fim)

14 comentários:

Anónimo disse...

podera cair mal ca.
mas o que a Camila disse, conresponde a verdade ou nao?
queremos viver de fica bem, ou de verdade?

Carlos Serra disse...

Leia a série toda ou, melhor ainda, o número anterior. E tente emitir a sua opinião.

Kanyoza disse...

Prof.,

Reconheco que lidar com anonimos e complicadissiomo no espaco da blogsfera.

Me parece que o anonimo nao leu e nao acompanhou desde do inicio essa questao. Nao sei o que ele entende por "mal" ou "verdade".

Nasci e cresci num distrito onde comer carne nunca foi e nem e problema para mulheres, mesmo durante a guerra dos 16 anos. Camila, nutricionista brazileira, nao sabe que muitos dos distritos no Vale do Zambeze (Tete, particularmente) come-se carne a fartura e podem conduzir pesquisas para apurar. Nas sociedades patrilocais/ patrilineares, talvez a questao mais importante fosse moelas de galinha e nao propriamente a carne de galinha. Isso tambem deve ser lido no seu contexto.

O peixe do rio, me parece ter mais gordura que algum peixe do mar (nao tenho prova cientifica). Tempera-lo com coco pode nao ser importante a-montante do Vale do Zambeze, porque la o coco nao existe ou nao chega pelos vendedores. Mas o peixe seco, esse e temperado com amendoim, vindo ou de Chiuta, ou gergelim produzido em Mutarara. Portanto, o Mocambicano nao precisa necessariamente usar o coco para temperar comida, para serem qualificados como bons apreciadores de "manjares". Camila, nem sabe o que significa "mandjandjandja,( desculpem-me meus compatriotas Gitongas, se escrevi mal a palavra), um qualificado de quao suculente deve ser a refeicao entre os Gitonga.

Como ve, meu caro anonimo, Camila nao so nao disse a verdade como tambem caiu na fita dos/das mendigos/as da FDC. A relacao entre ONGs nacionias e internacionais e seus doadores, funcionam numa rede de falsidade de problemas de "coitados pobres". E preciso qualificar o problema do "pobre" para ter o dinheiro. O fulcro da pesquisa da Camila e apoiar os/as mendigos/as da FDC. Isso lembra-me a um dos enviados dos EUA para trabalhar em Mocambique quando ha 6 anos troxe para Maputo papel higienico e comida enlatada para todo o ano porque pensava que em Maputo nao existiam tais produtos. Que ignorancia!!! Alguns estrangeiros nao leem nada antes de ir para o pais que vao pesquisar. Que pena!!!!!

Anónimo disse...

li o artigo todo,

a camila constatou isso num mes de trabalho.

agora, alimentamo-nos bem ou mal?

ela esta errada porque esta errada mesmo, ou porque nao teve tempo de trabalhar mais, ou esta errada porque 'e estrangeira?

nao vamos confundir as coisas. os mendigos existem ou nao? ela veio trabalhar para os "espiritos ricos" ou para todos e com maior foco para os de baixa renda?

o ser anonimo nao significa nao emitir opiniao, Sr KANYOZA.

porque pretende-se saber o nome de cada um que emite uma opiniao, contraria?

'e valido o que a Camila disse ou nao? aproveitamos ou deitamos fora? agora Nacionalismo assim fica complicado.daqui a pouco vai se pedir guia de marcha para mandar uma opiniao.

Kanyoza disse...

Caro anonimo,

SE Camila disse a verdade ou nao tira a sua conclusao.

Nao e questao de guia de marcha. Ninguem sugere isso aqui. Nao e questao de haver ou nao mendigos. Em todo mundo ha mendigos, incluindo os mendigos que os brazileiros nao conseguem iliminar.

Dizer que os Mocambicanos comem mal (idea falsa, incoerente e refutavel com evidencias), nao e mesma coisa dizer que ha mendigos em Mocambique (verdade irrefutavel). Nao confunda o sentido de mendigo que usei. Falo da mindiguice da FDC como ONG/fundacao que encomenda estudos para fins de obter dinheiro. Nao e o primeiro caso esse. Ha tantas pesquisas feitas nesses moldes na nossa terra.

Apenas quiz enfatizar que as pessoas devem se informem um pouco mais antes de fazer generalizacoes descabidas como esta de Camila.

Anónimo disse...

Os meus parabens pela série, ajuda a fazer uma análise crítica aos resultados d a pesquisa da Camila. Eu acho que o processo de investigacao deve ser crítica contrutiva senao podemos correr o risco de nossos resultados nao serem adoptados/aceites. E este é um dos casos ques mostra como o ocidente olha para os africanos.

Abaixo proponho outros subisídios para debate:

1. Questao de generalizacao dos resultados. Que ténicas de pesquisa foram usadas para o efeito? Uma delas é a amostragem que deve ser aleatória e considerando um número suficiente de indivíduos (ou agregados familiares) distribuidos pelo país. Será que isso se verificou?

2. Qual foi o grupo alvo de pesquisa? Terão sido agregados familiares vivendo abaixo de 1 dólar por dia? Terão sido agregados familiares vivendo na cidade ou no campo? Terão sido todos mos mocambicanos no geral?

3. Será que em Mocambique nao existe mesmo nada de bons hábitos alimentares? O que de bom foi identificado e pode servir de utíl para exportar par outras regioes do país.


Abracos, JL

Jonathan McCharty disse...

Acho que responder aos "resultados" da "pesquisa" da sra. Camila, e' uma total perda de tempo!!
Penso que, inclusive, o Prof. Serra apresenta uma abordagem "bastante eufemista" desta "nutricionista"!! Pela sua elucidativa curta metragem (clips), nao custa ver o desprezo nutrido com que ela se refere aos nossos habitos alimentares!! Quer dizer, do Rovuma ao Maputo, do Zumbo ao Indico, "tudo" mundo esta' no mesmo saco, come da mesma maneira, as mesmas coisas "azedas"!!

Para ser franco, e como disse no principio, e' uma perda de tempo responder a estes brasileiros que vem aqui 'a Africa, com as ideias completamente "faveladas"!! Pensei que so' fosse o Fabio Zanini.....

Anónimo disse...

que tal discutirmos a seriedade da estatistica do HIV aprentada pelo INE?

nao sao estrangeiros, os do INE!

Arune disse...

Ora vamos lá ver:
1- a nutricionista fez o que lhe pediram ou o que julgou ser bom na opinião dela?
2- quem a convidou terá ficado satisfeito pelo resultado apresentado?
3- haverá quem ainda dê razão aos que chegam a Maputo e dizem ter vindo a Moçambique?

Política é política, quando os ilustres VIPs entram e seam de uma capital nacional dizendo que foram visitar o país.
Ok, já agora, em Maputo há gente de todas as nossas províncias, porque os "convidantes da nutricionista" não os convocaram para a troca de experiências?
Infelizmente para mim o assunto não foi sucintamente tratado, mas pelos vistos terá agradado a um Anónimo.
Arune - Beira.

Dário disse...

bem, fui em quem escreveu o artigo que vem em forma de link na primeira parte da serie do prof, e, desde já peço desculpas por algum possivel erro de português, foi escrito com muita raiva e muito rapido, pois queira mandar o email o qunato antes.

nutricioista quando perguntada sobre em que area do país terá estado, disse as seguintes palavras " Maputo, a Capital".

outra coisa que tive a oportunidade de aprofundar foi que ela esteve cá duas vezes: a primeira em Maio e a segunda entre Agosto e Outubro.

ela nao esteve em todas as provincias do país, e posso arriscar em dizer que nao visitou 1/3 de Maputo.

a questao aqui é o facto de ela dizer por várias vezes "Os Moçambicanos" como se "Os Moçambicanos" só fossem aqueles que estão morando em Maputo.

disse, e eu me lembro de ter ouvido isso da boca dela, que "Moçambique é só AREIA"... ora, quando ela desembracou no nosso Aeroporto Internacional, pisou em AREIA?
eu sinceramente gostaria imenso de fazer essas perguntas a ela mesmo, só que infelizmente, os brasileiros são muito unidos, e creio que estejam protegendo a sra, pois o meu email enviado no dia 19 ainda nao teve resposta e outro ainda enviado no dia seguinte ao email da fundação SESI-SP (donde ela é funcionária, creio) também ainda não foi respondido..

enfim... quem viu esse programa pela TV-Record deve ter ficado a pensar
"caramba, Moçambique só areia? Não comem carne regularmente? Há tanta disputa entre Homens e animais? Nem vale a pena ir lá"

Saudaçoões...

Anónimo disse...

Caro Professor,
Entre muitos aspectos que se colocam nesta pesquisa e nos seus resultados queria destacar:
a) Que a entidade que encomendou a pesquisa deveria publicar o relatorio para que, pela leitura, possamos reduzir o nivel de duvidas que pairam em nos (suponho que tal relatorio exista).
b) Talves fosse possivel ouvir a opiniao de especialistas Mocambicanos em nutricao, relativamente ao quadro nutricional de Mocambique ou de Maputo em particular, caso haja estudos nesta area.
c) Pelas postagens do Professor e pelos Comentarios recebidos parece haver aspectos de natureza etica que esta pesquisa nao acautelou. Entao o que se faz? Que diz o Ministerio de Ciencia e Tecnologia? O Ministerio de Saude? A Academia de Ciencias de Mocambique? A FDC (particularmente o Director Executivo que e um grande cientista de Africa)?
Por ultimo, queria apelar ao professor seguir um pouco mais este caso.
Maguela Nhonguene

Anónimo disse...

Deixemos por momentos a Camila de lado e concentremo-nos na nossa REALIDADE.

Há graves problemas nutricionais na alimentação da grande maioria da nossa população, quer no campo quer na cidadde.

Em muitos casos é preciso muita criatividade para diariamente irmos Enganando o Estomago.

É verdade que a grande maioria de nós apenas conheceu o sabor do Leite Materno.

E é normal que assim seja: as províncias de Cabo Delgado, Niassa, Zambézia, Sofala e uma parte de Manica e Inhambane não têm condições para gado bovino (por infestação da tsé-tsé)e a criação de caprinos e ovinos é muito baixa no sector familiar.

Apenas Tete e o Sul do Save tem tradição pastoril, por razões de clima e solos.

Também é verdade que o boi, cabrito, pato, galinha, ovos são mais utilizados como fonte de rendimento (venda) do que na alimentação Normal/diária. Exceptuam-se as nossas cerimónias.

Está cientificamente provado que o consumo de proteinas durante os 6 (seis) primeiros anos de vida é essencial para a formação do cérebro. Em muitos casos, esta carência causa lesões irreversíveis.

> Muitos dos insucessos no ensino primário (alunos que chegam à quarta ou quinta classe sem saber ler, o assinar o nome)são em grande parte consequência desta realidade.

Sugiro que nos preocupemos mais com o NUTRICIONISMO e menos com o mero prazer da mesa, a Gastronomia, que temos rica e variada.
__

Anónimo disse...

Ao último anónimo (escondido), não sei é medo de quê, gostaria de dizer que me parece ser bom sabedor das coisas. Porém me parece também que está interessado noutro assunto e não o vertente.

Ora: o debate é sobre o que comemos e como comemos... moçambique é só areia...carne só para os homens... e etc.
Não interessa a nós defender se isso é verdade ou não?
Que o país tenha um série de problemas para debate, isso eu sei e concordo, mas daí a deixar que nos "gozem", não!!!!!
Sei de exemplos vividos em paízes latinos que tudo da fruta, de legumes, de cereais e dos animais se aprveita, para não "passar fome/ dificuldades". Se calhar, uma vez mais, pois escreví no cometário anterior, valesse a troca de experiências, e não nos dizer que "não sabemos aproveitar o que é nosso".

Arune - Beira

Anónimo disse...

Caro Arune,

1. Sobre o anonimato:

Entendo que o mais importante num debate, são as IDEIAS e não os “proprietários” das mesmas. O fundamental é que essas Ideias sejam colocadas com CIVISMO, que não atentem contra a liberdade dos outros. Neste Blog, este aspecto está salvaguardado, dado que os comentários são sujeitos a prévia validação, antes de editados.

 Portanto, debatamos IDEIAS, pontos de vista, esqueçamos raças, religiões, preferências políticas, graus académicos, nomes: aprendamos anonimamente uns dos outros!

2. Sobre os temperos na culinária Moçambicana:

 Quem conhece a realidade rural e suburbana do nosso país, sabe que a GRANDE MAIORIA da população usa (i) ÁGUA E SAL (na preparação da farinha de milho, de mandioca, na cozedura do arroz, das carnes, do feijão e dos mais diversos vegetais) e (ii) “FOGO” para defumar/assar, a carne, o peixe, a maçaroca, a mandioca, a batata doce, etc., (que é bom e saudável).

 Sim, em alguns casos entram oleaginosas como o amendoim e o coco… ou mesmo cebola, alho, tomate, piri.piri. Mas, NA MAIOR PARTE DOS CASOS, meu caro Arune, é mesmo ÁGUA E SAL (de que gosto!)

3. Ainda sobre a Camila,

Mais do que a FORMA como se expressou (criticável) o importante é avaliar as conclusões do trabalho em termos NUTRICIONAIS. É um facto que a grande maioria da população Moçambicana, não tem possibilidade de, no dia a dia, preparar refeições sofisticadas, muito condimentadas (i) quer porque não tem possibilidades económicas para o fazer (ii) quer porque não faz o aproveitamento integral dos produtos alimentares de que dispõe (por desconhecimento, razões culturais ou outras). Vejamos:

> Temos uma enorme capacidade para fazer AGUARDENTE a partir da cana de açucar e de tudo quanto é fruto (caju, papaia, banana, manga, maçanica, batata doce, etc.), mas não temos a mesma capacidade/ disponibilidade para fabricar doces e/ou secar frutos (doces de cajú, papaia, goiaba, manga, banana, etc., ou secagem destes frutos para consumo do agregado familiar ao longo do ano. E, quando secamos, caso do caju, banana, etc., temos em vista, fundamentalmente, uma reserva de matéria prima para ir fazendo AGUARDENTE.

> Não tenhamos receio de assimilar conhecimentos ou hábitos doutras culturas, quando deles possamos obter vantagens.

Ainda hoje vi na TV o Presidente Armando Guebuza, na cerimónia de posse de novos Magistrados, brindar com champanhe, que nada tem a ver com a nossa cultura tradicional… … substituiu a nossa aguardente pelo importado champanhe … … com a circunstância agravante de nenhuma daqueles altas individualidades se ter dignado derramar uns pingos daquele precioso líquido para os nossos antepassados!

Um abraço
__