27 setembro 2011

Um texto de Samora Machel (1)

Hoje os momentos são outros, a roda da história parece ter outra história, as maneiras por que se lê e se analisa o que se passa utiliza estradas diferentes. Tenho para mim que não é má ideia recordar extractos de um texto de Samora Machel e retomar contacto com categorias analíticas que parecem perdidas, num país como o nosso onde é cada vez mais forte a presença do Capital internacional e, em particular, do Capital mineiro:
Referência: Machel, Samora Moisés, O processo da revolução democrática popular em Moçambique (1970?). Maputo: Departamento de Informação e Propaganda, 1976, in Colecção estudos e orientações, Instituto Nacional do Livro e Disco, 1980, 78 pp.
(continua)

4 comentários:

BMatsombe disse...

Há quem se dedique a esconjurar essa maneira de pensar.

ricardo disse...

Como homem, e apenas nesse contexto, uma das caracteristicas que sempre apreciei em Samora foi a sua sinceridade e ate, imagine-se, bom senso analitico. Era um homem com poucos estudos, mas extremamente intuitivo e inteligente. O excerto do texto, certamente refinado com a pena de Aquino de Braganca (ou de Adriao Rodrigues em algumas ocasioes), mostra que entre ELE e a ala de MARCELINO DOS SANTOS (que muitas vezes e vulgarizada como sendo de TODOS intelectuais da FRELIMO, o que e falso) havia uma rotura politica clara. Por exemplo, Samora percebeu imediatamente que nao era conveniente entrar em guerra aberta com vizinhos poderosos militar e economicamente, mas Marcelino dos Santos e que o convenceu a entrar em confornto com eles. Primeiro com a Rodesia do Sul, ao fechar as fronteiras em cumprimento de resolucoes da ONU, que por sua vez prometera a Mocambique a compensacao militar, diplomatica e financeira, uma vez que se esgotava uma fonte importante de divisas de Mocambique. E com a RSA, primeiro com a questao do pagamento das remessas em Krueger Rands, que por causa de Marcelino tambem, deixaram de se-lo. E posteriormente, ao colocar Mocambique como peao da Guerra Fria em linha com as orientacoes ideologicas ha muito dimanadas do COMECON e que comecaram com os antecendentes internos que determinaram o assassinato de Eduardo Mondlane. Portanto, para mim, em todas decisoes colegiais de Samora (desastrosas, na maior parte das vezes) esteve o dedo de Marcelino dos Santos e sua entourage. Quando Samora pode "rebelar-se" contra estas, Mocambique conheceu as melhores decisoes do pos-independencia, ainda que muitas vezes polemicas e questionaveis nos dias de hoje. Providencialmente, com a morte de Samora Machel, Mocambique, possivelmente, abriu as auto-estradas para o Acordo de Roma, porque antes de Novembro de 1986, nos teriamos invadido o Malawi (outro exercicio megalomano no quadro da Guerra Fria), o que resultaria numa energica retaliacao militar de muitos Estados da Commowealth contra nos e contra o Zimbabwe, incendiando toda a Africa Austral. Estariamos muito provavelmente numa situacao semelhante a da Costa do Marfim. O que sendo, teria sido uma NODOA NEGRA muito feia na folha de servicos de Samora Machel.

Salvador Langa disse...

Esconjurar podem, eliminar não.

Muna disse...

O homem lucubrava.

Pensava

Destilava

Era um visionario

Homens assim, morrem cedo ou ignorados pelos sistemas.

Zicomo