31 janeiro 2012

Estado social e placentas da vida

Semanas atrás, centenas de famílias reassentadas em Cateme, distrito de Moatize, província de Tete, protestaram com vigor contra a maneira como estavam a ser tratadas há muito tempo, contra as suas péssimas condições de vida (aí compreendida a falta de água), depois que, por imperativo do Capital mineiro da "Vale Moçambique", foram afastadas das suas anteriores terras.
Se na "Utopia" quinhentista de Thomas Morus eram os carneiros que devoravam os homens na febre da indústria lanífera inglesa, no nosso país há indícios de que o carvão mineral possa vir a devorar camponeses e artesãos. E quem diz carvão mineral pode dizer outros minerais.
Os problemas ocorridos em Cateme pode um dia ser replicados, por exemplo, no Niassa, caso o Estado abdique do papel de Estado Social em favor do papel exclusivo de Estado ao serviço do Capital internacional, caso o Estado não monitore, previna e, no pior dos casos, corrija atempadamente situações como a de Cateme.
Tirar pessoas dos locais onde vivem é bem mais do que uma operação técnica alicerçada em casas construídas à pressa, tirar pessoas dos locais onde vivem é privá-las da memória, dos antepassados, dos cemitérios familiares e comunais, é despojá-las - rigorosamente - das placentas da vida.
Adenda às 11:55 de 02/01/2012: confira no "Diário de Moçambique" aqui.

1 comentário:

Salvador Langa disse...

O problema arrastou-se durante dois anos, o texto do Sr Hanlon tem várias coisas eloquentes.