31 outubro 2013

Estado que sentem distante e insensível

As estações televisivas do país dedicaram muito espaço nos seus noticiários das 20 horas às manifestações hoje realizadas nas cidades de Maputo, Beira e Quelimane. Milhares de pessoas dos mais variadas origens sociais e religiosas, homens e mulheres, idosos e crianças, tiveram uma só voz num impressionante movimento social: a da crítica a um Estado que sentem distante e insensível, a da exigência de um Estado cidadão e incorruptível que as proteja e as liberte do medo. O que hoje se passou de forma pacífica mas veemente e bem organizada, mostra quanto o Estado deve ser repensado no tocante à segurança pública e às promessas que faz e que - disseram muitas pessoas - não cumpre (fotos tiradas esta manhã na manifestação de Maputo por CSJ).

Postagens na forja

Eis alguns dos temas que, progressivamente, deverão entrar neste diário a partir da meia-noite local:
Séries pessoais: Cenários pós-Santungira (11); Discursos presidenciais e escritores-fantasmas em Moçambique (3); Da purificação das fileiras à purificação das ideias (4); Luta política: a Pasárgada da Renamo (21); A cova não está em Muxúnguè (27); Por que os médicos venceram? (21); Vídeosocial de Maputo (4); A raça das raças (7); Desunidos e unidos (5); O poder de nomear desviantes e vândalos (15); Sobre o 15 de Novembro (19); Produção de pobreza teórica (8); O discurso da identidade nacional (12); Como suster os linchamentos? (17); O que é um intelectual? (14); Democracia formal e prescrição hipnótica (9); A carne dos outros (23); A difícil fórmula da distribuição de consensos (49); Modos de navegação social (22); Ditos (68); O que é Moçambique, quem são os Moçambicanos? (102)
Nota: a pouco e pouco tentarei abandonar a modalidade das séries, combinando textos/cabeçalhos curtos aqui e textos longos aqui, método que já comecei a ensaiar. 

Impressionante manifesto antiracial

As manifestações pacíficas hoje em curso nas cidades de Maputo, Beira e Quelimane mostram ser um impressionante manifesto antiracial, um impressionante manifesto de solidariedade moçambicana. Mais: mostram que o povo sabe exigir respeito de forma ordeira e organizada.
Adenda às 10:41: No "O País" digital de hoje: "A presidente da Liga dos Direitos Humanos, Alice Mabote, garante que, além da polícia, estrangeiros estão envolvidos nos raptos que mexem com o país [...]. Por seu turno, a presidente do Fórum Mulher, Isabel Casimiro, exigiu a troca dos dirigentes das Forças de Defesa e Segurança. Ademais, acusou o Presidente da República, o Parlamento, a Procuradoria e o Comando Geral da Polícia de falta de vontade no combate à onda de raptos no país. É preciso ir muito mais longe, mexer profundamente no sistema e nas suas hierarquias, exonerando e investigando todos os que dirigem e orientam a polícia”, afirmou." Aqui.
Adenda 2 às 10:46: fotos enviadas por António Zefanias, director do "Diário da Zambézia", a propósito da manifestação hoje na cidade de Quelimane:
Adenda 3 às 11:14: Azagaia canta neste momento na manifestação de Maputo.
Adenda 4 às 12:26: há várias horas que a estação televisiva TIM está no ar mostrando e analisando as manifestações que hoje tiveram lugar, ao contrário da STV, da Miramar e da TVM, passando programas recreativos.
Adenda 6 às 13:49: nenhuma referência às manifestações no noticiário das 12:30 da "Rádio Moçambique".

Cenários pós-Santungira (10)

Décimo número da série. Prossigo no primeiro dos cinco pontos do sumário proposto no número inaugural, com a indicação expressa de que em todos eles apenas terei em conta pequenas hipóteses que, absolutamente, precisam ser testadas. 1. O significado de Santungira. No número anterior escrevi um pouco sobre os três primeiros pontos dos nove propostos aqui. Passo agora aos pontos 4 e 5. Em 2010, contra a decisão de Afonso Dhlakama, presidente da Renamo (que alegou ter havido fraude nas eleições legislativas e presidenciais do ano anterior), os deputados do partido ocuparam os seus lugares na Assembleia da República e nas Assembleias Provinciais. Uma clara fractura partidária. Por outro lado, a Renamo sofria, em crescendo, não só as críticas da Frelimo, quanto as dos seus antigos aliados na oposição, pequenos partidos sem qualquer relevo político votal mas cujos dirigentes começaram a surgir com grande visibilidade em certos órgãos de informação, criticando o antigo aliado e protector pelo que consideravam ser postura antidemocrática. Mas não só: jovens intelectuais sedentos de ascensão social e deputados de relevo abandonaram o partido em 2009, como que ampliando a sangria que este sofria desde a expulsão em 2000 do negociador de Roma e segunda figura da organização, Raul Domingos. Se não se importam, prossigo amanhã nos restantes pontos.
(continua)
Adenda: sugiro leia um trabalho Luca Bussotti divulgado em Abril deste ano no "Pambazuka News", intitulado "Uma nova guerra em Moçambique?", aqui.
Adenda 2 às 06:01: deverá realizar-se hoje na cidade de Maputo, a partir das 7:30, uma marcha pacífica em apoio à causa da paz no país. A Universidade Politécnica, por exemplo, editou o cartaz abaixo (clique sobre a imagem com o lado esquerdo do rato para a ampliar):
Adenda 3 às 6:30: abaixo um outro cartaz que surgiu no Facebook (clique sobre ele com o lado esquerdo do rato para o ampliar):
Adenda 4 às 6:23: a imagem desta adenda foi adoptada por muitos Moçambicanos na suas páginas e nos comentários do Facebook.
Adenda 5 às 6:44: confira o que vem na "TIM"/Facebook, aqui.
Adenda 6 às 06:55: organizações religiosas deverão participar na marcha.
Adenda 7 às 9:01: a TIM está a reportar a concentração, Miramar, TVM e STV dão programas recreativos.
Adenda 8 às 09:38: muita gente na manifestação pacífica na cidade de Maputo, as pessoas caminham ordeiramente para a Praça da Independência protegidas por segurança privada da organização.
Adenda 9 às 10:21: "Milhares de pessoas desfilaram esta quinta-feira em Quelimane na marcha pela paz organizada pela Sociedade Civil. Apesar dos tais apelos do partido Frelimo através do seu porta-voz Damião José, para não se aderir-se a marcha, em Quelimane vimos a figura do Inusso Ismael membro senior da Frelimo, antigo deputado daquela formação política a liderar esta marcha que teve como seu início na Sagrada Família e foi "desaguar" na praça da Paz." - na página do Facebook do "Diário da Zambézia".
Adenda 10 às 10:27: as pessoas da manifestação - são milhares - em Maputo estão neste momento a cantar o hino nacional.

A dramática sanduiche moçambicana

Está o povo moçambicano feito recheio de uma sanduíche dramática: uma fatia é formada pelos confrontos militares no centro e norte do país; a outra, pelos raptos. A primeira fatia reacende o medo dos horrores da guerra terminada em 1992; a segunda, acende o medo de uma nova modalidade de guerra. E assim se planta um ponto de interrogação no futuro, no momento em que se acreditava, no presente, que o passado de má memória tinha emigrado de vez.

Cubaliwa

Venda do álbum intitulado Cubaliwa (=nascimento), do cantor de intervenção social Azagaia (Edson da Luz, de seu real nome), por 400 MT, no dia 9 de Novembro, a partir das 9 horas, na Associação dos Escritores Moçambicanos, cidade de Maputo, Av.ª 24 de Julho, esquina com a Av.ª. Amílcar Cabral. Biografia do cantor aqui.

30 outubro 2013

Criminalidade: o que Teodato Hunguana disse em 2002

Postagens na forja

Eis alguns dos temas que, progressivamente, deverão entrar neste diário a partir da meia-noite local:
Séries pessoais: Cenários pós-Santungira (10); Discursos presidenciais e escritores-fantasmas em Moçambique (3); Da purificação das fileiras à purificação das ideias (4); Luta política: a Pasárgada da Renamo (21); A cova não está em Muxúnguè (27); Por que os médicos venceram? (21); Vídeosocial de Maputo (4); A raça das raças (7); Desunidos e unidos (5); O poder de nomear desviantes e vândalos (15); Sobre o 15 de Novembro (19); Produção de pobreza teórica (8); O discurso da identidade nacional (12); Como suster os linchamentos? (17); O que é um intelectual? (14); Democracia formal e prescrição hipnótica (9); A carne dos outros (23); A difícil fórmula da distribuição de consensos (49); Modos de navegação social (22); Ditos (68); O que é Moçambique, quem são os Moçambicanos? (102)
Nota: a pouco e pouco tentarei abandonar a modalidade das séries, combinando textos/cabeçalhos curtos aqui e textos longos aqui, método que já comecei a ensaiar. 

Cenários pós-Santungira (9)

Nono número da série. Prossigo no primeiro dos cinco pontos do sumário proposto no número inaugural, com a indicação expressa de que em todos eles apenas terei em conta pequenas hipóteses que, absolutamente, precisam ser testadas. 1. O significado de Santungira. No número anterior propus nove tipos de problemas que têm contribuído para reconduzir a Renamo ao aguilhão do seu nascimento e da sua vida castrense. Abordo os primeiros três. Os resultados eleitorais de 2004 e 2009 são um sério percutor na recondução indicada. Com efeito, Afonso Dhlakama e a Renamo perderam as eleições de forma significativa, mas ficou o registo de numerosas irregularidades. Por outro lado, em 2008 a Renamo cometeu um erro político: anunciou publicamente que o seu membro Deviz Simango seria substituído por Manuel Pereira como candidato do partido à presidência do município da Beira nas eleições autárquicas realizadas a 19 de Novembro. Isso, quando, publicamente também, tinha anunciado que Deviz seria o candidato. Este acabou por concorrer como independente, ganhando folgadamente. Mas não só: em Março de 2009, Simango apresentou o seu próprio partido, o Movimento Democrático de Moçambique, produto de uma fractura na Renamo, consumando, assim, a cissiparidade política. Se não se importam, prossigo amanhã nos restantes pontos.
(continua)
Adenda às 14:50: multiplicam-se na internet as informações sobre ataques armados nas zonas centro (Sofala) e norte do país (Nampula). No tocante a órgãos de informação, por exemplo, aquiaquiaqui e aqui. Enquanto isso, a "Rádio Moçambique" reportou no seu noticiário das 15 horas que há mortos e feridos num ataque registado esta manhã a uma coluna entre Muxúnguè e a ponte sobre o Rio Save, na província de Sofala.
Adenda 2 às 15:55: citado pelo "mediaFAX" de hoje, António Muchanga da Renamo afirmou "haver vários aproveitamentos políticos da tensão político/militar prevalecente no país, para denegrir a imagem do partido, associando este partido aos sucessivos ataques que tem como principal palco de acção, a província de Sofala."
Adenda 3 às 16:10: informação no "The Herald" zimbabweano aqui e no "Mail&Guardian" sul-africano aqui.
Adenda 4 às 16:58: "Rádio França Internacional", aqui.
Adenda 5 às 18:59: "Verdade"/Facebook aqui.
Adenda 6 às 20:11: ataques e raptos são as duas manchetes da estações televisivas locais. Entretanto, reduziu o movimento de transportadores na principal terminal do país, localizada em Maputo, dado o receio do que pode acontecer na estrada.
Adenda 7 às 20:18: no jornal português "Público" de hoje:
Adenda 8 às 20:28: a Renamo criou um sistema de comunicados no seu portal, o último datado de hoje, aqui.

Acomodação

29 outubro 2013

Polícia e condições de trabalho

A propósito da criminalidade no país em geral e na cidade de Maputo em particular, a estação televisiva STV apresentou no seu jornal das 20 horas dois trabalhos de reportagem: um, datado do ano passado, sobre as instalações da Polícia de Investigação Criminal na cidade de Maputo; o outro, deste ano, feito há dias, sobre duas esquadras da polícia situadas na periferia da cidade de Maputo. Certamente que quem pôde ver esses trabalhos se interroga, agora, sobre como pode a polícia obter êxito no combate ao crime com tão ultrajantes condições de trabalho. Isto, depois de, no mesmo noticiário, serem ouvidos altos responsáveis da polícia a dizer que a corporação está firme e não descansará enquanto não punir os criminosos.

Siga a série

Siga a série Cenários pós-Santungira que amanhã terá novo número e se aproxima do tratamento dos números 2 e 3:
1. O significado de Santungira
2. O cenário da guerrilha líquida de baixa intensidade
3. O cenário da guerrilha líquida de média intensidade
4. O cenário à Savimbi e a formação de uma Renamo renovada sem Dhlakama
5. O cenário político de paz pós-Santungira
Adenda às 17:45: segundo a página no Facebook do "@Verdade", houve hoje troca de tiros entre forças governamentais e membros da Renamo na província de Nampula, confira aqui. Aguardo confirmação oficial.
Adenda 2 às 17:54: até este momento, nenhuma referência no portal da "Rádio Moçambique" a incidentes seja na Estrada Nacional n.º 1, seja em Nampula.
Adenda 3 às 20:43: nenhuma reação oficial até ao momento. Enquanto isso, o "@Verdade" corrigiu na sua página do Facebook a notícia anterior através de uma outra na qual escreveu que o tiroteio foi apenas das forças armadas. Aqui.

Postagens na forja

Eis alguns dos temas que, progressivamente, deverão entrar neste diário a partir da meia-noite local:
Séries pessoais: Cenários pós-Santungira (9); Discursos presidenciais e escritores-fantasmas em Moçambique (3); Da purificação das fileiras à purificação das ideias (4); Luta política: a Pasárgada da Renamo (21); A cova não está em Muxúnguè (27); Por que os médicos venceram? (21); Vídeosocial de Maputo (4); A raça das raças (7); Desunidos e unidos (5); O poder de nomear desviantes e vândalos (15); Sobre o 15 de Novembro (19); Produção de pobreza teórica (8); O discurso da identidade nacional (12); Como suster os linchamentos? (17); O que é um intelectual? (14); Democracia formal e prescrição hipnótica (9); A carne dos outros (23); A difícil fórmula da distribuição de consensos (49); Modos de navegação social (22); Ditos (68); O que é Moçambique, quem são os Moçambicanos? (102)
Nota: a pouco e pouco tentarei abandonar a modalidade das séries, combinando textos/cabeçalhos curtos aqui e textos longos aqui, método que já comecei a ensaiar. 

Cenários pós-Santungira (8)

Oitavo número da série. Prossigo no primeiro dos cinco pontos do sumário proposto no número inaugural, com a indicação expressa de que em todos eles apenas terei em conta pequenas hipóteses que, absolutamente, precisam ser testadas. 1. O significado de Santungira. No número anterior deixei expresso que um conjunto de problemas especialmente ocorrido entre 2004 e 2010 terá contribuído para reconduzir a Renamo ao aguilhão do seu nascimento e da sua vida castrense, com um primeiro clímax em Nampula (onde Dhlakama fixou residência em 2010 saído de Maputo) e um segundo, mais pleno, na zona sofalense da antiga guerrilha, em Santungira (onde Dhlakama fixou nova residência em 2012). Que tipo de problemas? Proponho, entre outros, os seguintes:
1. Resultados eleitorais negativos em 2004 e 2009 e alegação de fraude
2. Erro político e vitória de Deviz Simango na Beira (2008)
3. Cissiparidade política e formação do Movimento Democrático de Moçambique (2009)
4. Desobediência dos deputados do partido na Assembleia ds República
5. Crítica permanente por parte da Frelimo e dos partidos acomodados
6. Sistemática recusa das propostas apresentadas na Assembleia da República
7. Desgaste das ameaças de manifestações de desobediência civil
8. Atracção financeira dos recursos naturais
9. Nampula e Santungira: aposta política no sacrifício, na frugalidade, na heroicidade e na fidelidade
Se não se importam, prossigo amanhã.
(continua)
Adenda às 5:18: sobre o que o "Notícias" chamou "desactivação" de uma base da Renamo em Marínguè, província de Sofala, confira aqui; a propósito da base, o "Verdade Facebook" exibe um mapa, aqui.
Adenda 2 às 5:33: leia um despacho da "Rádio França Internacional", aqui.
Adenda 3 às 5:36: certos jornais digitais, redes sociais e blogues do copia/cola/mexerica buscam o sensacionalismo mais imediato, mais ruidoso.
Adenda 4 às 5:44: leia um trabalho de Daniel Plaut intitulado "Mozambique's Forgotten Soldiers: Who Counts as a Veteran?", aqui.
Adenda 5 às 8:35: "Quantidades significativas de produtos agrícolas alimentares, com enfoque para amendoim, milho e feijões, estão a deteriorar-se na província de Nampula e, segundo apuramos, o facto deve-se a dificuldades para garantir o seu escoamento para os principais mercados no sul do país por parte dos intervenientes no processo de comercialização, que se mostram receosos em atravessar a zona centro que, nos últimos dias, tem vivido uma grande tensão provocada pela acção de homens armados que atacam veículos transportando mercadorias e pessoas indefesas." - "Wamphula Fax" 1953 de hoje, primeira página.
Adenda 6 às 8:41: notícia por confirmar sobre um ataque na Estrada Nacional n.º 1, aqui.
Adenda 7 às 9:51: um trabalho de Ludger Schadomsky sobre Dhlakama e Renamo, aqui.
Adenda 8 às 9:56: ex-primeiro-ministro do Zimbabwe, Morgan Tsvangirai, afirmando que o seu país não tem capacidade para intervir no nosso país, aqui.
Adenda 9 às 10:00: no "O País", aqui.
Adenda 10 às 15:59: alerta da Bloomberg sobre riscos financeiros com o recrudescimento da tensão política no centro do país, em particular no que concerne ao carvão, aqui.
Adenda 11 às 15:33: o mesmo tipo de advertência feito pela Oilprice, aqui.
Adenda 12 às 16:16: até agora, nenhuma referência nos noticiários da "Rádio Moçambique" a qualquer situação anómala na Estrada Nacional n.º 1.

Estrutura da "tribalidade"

A estrutura da "tribalidade" nasce na interacção social quando gerimos, protegemos ou almejamos monopolizar recursos de vida e poder fundamentais, quando praticamos a estrutura social dos semáforos: primeiro estão, passam ou ganham os nossos, depois os outros se algo restar ou permitirmos (aqui, a tribalidade não tem a ver com o sentido clássico de "tribo", mas com o sentido múltiplo de identidade grupal e política). A estrutura da tribalidade tem um princípio ideológico simples: o nosso grupo (família, linhagem, classe de idade, região, clube desportivo, unidade militar, sindicato, partido político, agrupamento de bairro, religião, agrupamento científico, clã ideológico) tem o direito histórico à preeminência, ao usufruto social e à verdade. É esse princípio que comanda a selecção identitária de pessoas, adeptos, apaniguados, crentes, militantes, funcionários e parentes. De alto a baixo do edifício oficial, o princípio do semáforo social organiza a selecção e a colocação “tribal”.

Feminização da dominação masculina

A crítica feminina à sexualidade feminina parece estar a cargo das mulheres mais velhas ou das mulheres envelhecidas. Regra geral, estas mulheres já não usam jeans ou mini-saias e possivelmente não ficariam corporalmente nada bem nelas (um estudo superficial das suas roupas mostra quão conservadoras são). Transferem então, moralmente, para as raparigas jovens, os pilares condenatórios e punitivos da dominação masculina, assumem-nos como seus. Portanto, a dominação masculina feminiza-se através das mulheres que perderam o viço da juventude.

28 outubro 2013

Postagens na forja

Eis alguns dos temas que, progressivamente, deverão entrar neste diário a partir da meia-noite local:
Séries pessoais: Cenários pós-Santungira (8); Discursos presidenciais e escritores-fantasmas em Moçambique (3); Da purificação das fileiras à purificação das ideias (4); Luta política: a Pasárgada da Renamo (21); A cova não está em Muxúnguè (27); Por que os médicos venceram? (21); Vídeosocial de Maputo (4); A raça das raças (7); Desunidos e unidos (5); O poder de nomear desviantes e vândalos (15); Sobre o 15 de Novembro (19); Produção de pobreza teórica (8); O discurso da identidade nacional (12); Como suster os linchamentos? (17); O que é um intelectual? (14); Democracia formal e prescrição hipnótica (9); A carne dos outros (23); A difícil fórmula da distribuição de consensos (49); Modos de navegação social (22); Ditos (68); O que é Moçambique, quem são os Moçambicanos? (102)
Nota: a pouco e pouco tentarei abandonar a modalidade das séries, combinando textos/cabeçalhos curtos aqui e textos longos aqui, método que já comecei a ensaiar. 

Cenários pós-Santungira (7)

Sétimo número da série. Prossigo no primeiro dos cinco pontos do sumário proposto no número inaugural, com a indicação expressa de que em todos eles apenas terei em conta pequenas hipóteses que, absolutamente, precisam ser testadas. 1. O significado de Santungira. No número anterior deixei a seguinte pergunta: o "regresso à história" tem a ver com uma ADN exclusivamente guerreira, com uma espécie de movimento peristáltico irremediavelmente castrense? Esta é a forma como a Renamo tem sido sistematicamente construída em certo imaginário, nacional e internacional. Mas a resposta é negativa. Sem dúvida que, com base em pessoas insatisfeitas com o rumo político do país pós-1975,  a Renamo foi uma uma quinta-coluna produzida e mantida durante vários anos pelos serviços de inteligência da antiga Rodésia do Sul e da África do Sul da era do apartheid, mas é um produto que acabou por se moçambicanizar, por se tornar autónomo, por liderar eleitoralmente uma parte do povo do país. A partir de 1992 iniciou a desguerrilhação, procurando transformar-se num partido político clássico do tipo liberal, mas com um interior doutrinário de direita, fortemente conservador e, também, frequentemente populista. Em 1999 esteve muito próximo da Frelimo nos resultados eleitorais, quer nas presidenciais, quer nas legislativas. Mas um conjunto de problemas especialmente ocorrido entre 2004 e 2010 terá contribuído para reconduzir a Renamo ao aguilhão do seu nascimento e da sua vida castrense, com um primeiro clímax em Nampula (onde Dhlakama fixou residência em 2010 saído de Maputo) e um segundo, mais pleno, na zona sofalense da antiga guerrilha, em Santungira (onde Dhlakama fixou nova residência em 2012). Que tipo de problemas? Se não se importam, prossigo amanhã.
(continua)

Moçambique 231

Confira o Moçambique 231 editado por Joseph Hanlon, o qual inclui comentários do autor sobre o clima que se vive de medo de raptos e de ataques com armas de fogo no país, aqui.

No prelo

Observar, sentir e analisar: a caixa negra do social - eis o título do meu próximo livro.

0,7% da população detém 41% da riqueza mundial

Confira o The 2013 Credit Suisse Global Wealth Report, aqui. O título é adaptado daqui.

Beleza feminina

27 outubro 2013

Postagens na forja

Eis alguns dos temas que, progressivamente, deverão entrar neste diário a partir da meia-noite local:
Séries pessoais: Cenários pós-Santungira (7); Discursos presidenciais e escritores-fantasmas em Moçambique (3); Da purificação das fileiras à purificação das ideias (4); Luta política: a Pasárgada da Renamo (21); A cova não está em Muxúnguè (27); Por que os médicos venceram? (21); Vídeosocial de Maputo (4); A raça das raças (7); Desunidos e unidos (5); O poder de nomear desviantes e vândalos (15); Sobre o 15 de Novembro (19); Produção de pobreza teórica (8); O discurso da identidade nacional (12); Como suster os linchamentos? (17); O que é um intelectual? (14); Democracia formal e prescrição hipnótica (9); A carne dos outros (23); A difícil fórmula da distribuição de consensos (49); Modos de navegação social (22); Ditos (68); O que é Moçambique, quem são os Moçambicanos? (102)
Nota: a pouco e pouco tentarei abandonar a modalidade das séries, combinando textos/cabeçalhos curtos aqui e textos longos aqui, método que já comecei a ensaiar. 

Cenários pós-Santungira (6)

Sexto número da série. Prossigo, ainda, no primeiro dos cinco pontos do sumário proposto no número inaugural, com a indicação expressa de que em todos eles apenas terei em conta pequenas hipóteses que, absolutamente, precisam ser testadas. 1. O significado de Santungira. Escrevi que a Renamo deve ser analisada enquanto liga triádica, mas com pesos diferenciais nas três componentes. Quando Dhlakama fixou residência em Santungira, ele e a elite militar hegemónica na Renamo quiseram dizer o seguinte: chegou a hora de regressarmos à história. Este regresso à história significa regressar à fórmula de Clausewitz, significa abdicar da luta política através de eleições periódicas. Digamos que, nos termos enunciados no número anterior desta série, Maputo era o futuro, Nampula o presente e Santungira é o neopassado. Mas o regresso à história tem a ver com uma ADN exclusivamente guerreira, com uma espécie de movimento peristáltico irremediavelmente castrense? Se não se importam, prossigo amanhã.
(continua)

A cova não está em Muxúnguè (26)

Vigésimo sexto número da série, tendo como guia a Paz de Aristófanes, referida nesta série aqui e aqui, com base neste sumário. Prossigo no segundo número: 2. Um pouco da história das géneses, permanecendo no primeiro fenómeno dos quatro considerados aqui. 2.1. O peso da novidade política. Escrevi no número anterior que a nova velocidade da história entrou de imediato em conflito com os diferentes eixos e ritmos da velocidade anterior. Esta velocidade anterior era fundamentalmente composta por dois tipos complexos de modos de vida: o colonial e o local. Colonial, no sentido de uma "superestrutra" de comando formal formada por regras, leis e hábitos formais, de pendor essencialmente urbano. Local, no sentido de uma "infra-estrutura" de comando informal formada por costumes, culturas e hábitos do dia-a-dia popular, de pendor essencialmente rural. Dois modos de vida que podiam estar imbrincados, em particular nas periferias das cidades. Com a vossa permissão, prossigo mais tarde.
(continua)

No "Savana" 1033 de 25/10/2013, p.19

Se quiser ampliar a imagem, clique sobre ela com o lado esquerdo do ratoNota: "Fungulamaso" (abre o olho, está atento, expressão em ShiNhúnguè por mim agrupada a partir das palavras "fungula" e "maso") é uma coluna semanal do semanário "Savana" sempre com 148 palavras na página 19. A Cris, colega linguista, disse-me que se deve escrever Cinyungwe. Tem razão face ao consenso obtido nas consoantes do tipo "y" ou "w". Porém, o aportuguesamento pode ser obtido tal como grafei.
Adenda: também agora na rubrica Crónicas da minha página na "Academia.edu", aqui.

Negócios em Moçambique

Cabeçalhos do Africa Intelligence das duas mais recentes notícias do mundo de negócios no nosso país, aqui.

26 outubro 2013

Novo ataque na Estrada Nacional n.º 1

Um morto e nove feridos num ataque a uma carrinha de transporte colectivo registado hoje na Estrada Nacional n.º 1, troço entre Machanga e Muxúnguè, província de Sofala, informação constante no "@Verdade Facebook" e no noticiário das 18 horas da "Rádio Moçambique". O jornal digital usou a expressão "homens armados, ainda não identificados", mas a rádio referida empregou a expressão "homens armados da Renamo".
Adenda às 18:12recordo-vos o sumário da série intitulada "Cenários pós-Santungira":
1. O significado de Santungira
2. O cenário da guerrilha líquida de baixa intensidade
3. O cenário da guerrilha líquida de média intensidade
4. O cenário à Savimbi e a formação de uma Renamo renovada sem Dhlakama
5. O cenário político de paz pós-Santungira
Adenda 2 às 18:22: o veículo terá sido incendiado.
Adenda 3 às 19:37: grande destaque dado ao ataque pela "Rádio Moçambique" no seu noticiário das 19:30. Balanço: um morto e dez feridos, registo áudio de testemunhas. A rádio citou o presidente Guebuza a condenar o ataque através de um porta-voz, Edson Macuácua, ataque atribuído textualmente à Renamo. O porta-voz disse ainda que o presidente criticou aqueles que defendem publicamente ser inconstitucional o uso das forças armadas num fenómeno que tem a ver com a polícia. O porta-voz afirmou que não fazer o que está a ser feito é que seria anticonstitucional por omissão. Enquanto isso, a Comunidade de Santo Egídio afirmou estar preocupada com a situação política no centro do país, em nota enviada à rádio.
Adenda 4 às 21:39: não há ainda uma reacção da Renamo à notícia.
Adenda 5 às 21:43: a "RTP" refere três viaturas atacadas, aqui.
Adenda 6 às 21:48: uma notícia sobre o controlo dos homens da Renamo, aqui.